segunda-feira, 7 de março de 2011

Abuso de medicamentos - Quanto menos melhor!

 

 

Abuso de medicamentos

Dr. Fabiano Rocha é médico, professor de Geriatria na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Dr. Drauzio Varella












Drauzio Quando recebe um paciente que está tomando vários medicamentos, o que você costuma fazer?

Fabiano Rocha – Minha vontade é sempre suspender o maior número possível de medicamentos e invariavelmente consigo racionalizar de alguma forma seu uso. Às vezes, substituindo por outros tipos de tratamento, é possível reduzir para dois essenciais os nove medicamentos que o paciente vinha tomando. Outras vezes, só é possível retirar um ou dois. Os resultados ficam evidentes na segunda consulta quando tanto ele quanto a família referem-se à melhora de disposição e do funcionamento da memória, o que vem provar que as alterações anteriores eram por conta dos efeitos colaterais dos medicamentos e não propriamente por conta do processo de envelhecimento.

DrauzioNa verdade alguns desses medicamentos são absolutamente inúteis. Não existe, por exemplo, remédio eficaz para a memória, mas são muitos os idosos que tomam esse tipo de medicamento.

Fabiano Rocha – O bom funcionamento da memória não está ligado ao uso de medicamentos. Se existe um déficit de memória, suas causas têm de ser investigadas e, feito um diagnóstico, devem ser tratadas. Essa abordagem racional do problema, às vezes, causa estranheza para a família.

DrauzioHá outros remédios inúteis como esses para a memória?

Fabiano Rocha – Existe a chamada prescrição em cascata. O médico receita uma medicação para a dor, por exemplo, que tem como efeito colateral a constipação intestinal. Daí, o hábito intestinal da pessoa, que era diário, começa a espaçar-se e ela volta ao médico com a queixa de que seu intestino não está funcionando direito. Na tentativa de resolver o problema, ele prescreve outro e mais outro medicamento.
A prescrição em cascata explica em parte a quantidade enorme de remédios que toma o idoso.

Drauzio Quer dizer que o paciente toma um remédio e depois outro para o efeito colateral que o primeiro provocou e assim sucessivamente. Na verdade, se deixasse de usar o primeiro, todos os outros seriam absolutamente desnecessários.

Fabiano Rocha – No caso da constipação intestinal, por exemplo, bastava apenas orientar os hábitos alimentares e estaria resolvido o problema.